Covid em Matosinhos: entrevista de Rua

No início do desconfinamento, a Passo Positivo decidiu sair à rua para perceber como é que os habitantes de Matosinhos viveram os últimos meses. A pandemia modificou inevitavelmente os nossos hábitos e rotinas diárias, exigindo uma maior precaução e cuidado com a limpeza da casa e a higiene pessoal.  

Rosa Maria anda sempre com álcool em gel e com máscara, que troca diariamente. “Quando saio, 2 ou 3 horas no máximo vai para o lixo”, conta. Mesmo com todas as precauções, Rosa ficou infetada. Esteve em casa fechada com o seu marido, que não pode fazer o distanciamento necessário porque Rosa Maria estava fraca e desmaiava frequentemente. Dormiam juntos e partilhavam o mesmo quarto de banho, mas faziam as refeições separados e o marido, Horácio, utilizava máscara dentro de casa. No final, testou negativo para a Covid-19. 

Acompanhado pela Bia, a sua cadela António passeava na rua quando o interpelamos. Sai todos os dias três vezes por dia para passear a sua fiel companheira, mas sempre com cuidado. “Montei um sistema com desinfetante e limpo-lhe os pés quando chego a casa, lavo as mãos, uso máscara sempre.” conta. “Não tenho contacto com as pessoas ou o menos possível”, acrescenta. As compras faz online e usufruiu de entrega ao domicilio. Na farmácia, também encomenda e levanta quando necessário. “Até é mais fácil, há menos contacto”, afirma. 

Os cuidados ao entrar em casa são importantes para mantermos o espaço seguro. José conta-nos a sua rotina para entrar em casa:  primeiro desinfeta as mãos à entrada e só depois retira a máscara e deixa os sapatos na entrada e troca por chinelos. 

Os cuidados dentro de casa não devem estar restritos à pessoa, mas também aos objetos e alimentos que trazemos connosco. Na casa de José, todas as embalagens são desinfetadas e a fruta é sempre lavada. “Eu não como nada sem ser lavado, porque as pessoas no mercado põe a mão para escolher e por isso nós lavamos tudo”, explica. 

Para desinfetar as embalagens, alguns entrevistados contaram que utilizam o vinagre, o que não é muito aconselhável. Uma solução mais adequada é, por exemplo, num pulverizador com água adicionar duas colheres de lixívia e utilizar como desinfetante. 

No jardim da igreja de Padrão da Légua, encontramos o senhor Manuel a fazer exercício físico. É algo que tenta fazer com regularidade para combater os efeitos negativos do isolamento social a que a COVID-19 obrigou. “Uma pessoa se tiver parada é como uma porta estar fechada: está ali muito tempo ganha ferrugem”, diz Manuel.

Na altura da entrevista, todos os entrevistados já tinham tomado pelo menos a 1º dose da COVID-19 e nenhum demonstrou receio de a tomar. “É como a picada de um alfinete não é nada”, afirma Joaquim. Para si, o maior problema foi ter de ficar em casa. “Eu era uma pessoa que gostava de se divertir ao fim de semana. Ia dançar. Agora não posso, desde que veio isto em março nunca mais fui”, conta. Sente a diferença nas pernas e no coração- “a música distrai o cérebro e é uma alegria para o corpo.”

O convívio reduzido com familiares e amigos pode ter consequências a nível da saúde mental, por isso sair para caminhar ou praticar exercício físico é essencial. 

Maria Clara sentiu fortemente o confinamento. Perdeu o marido em dezembro de 2019 e pouco depois surgiu o COVID-19 que a privou de passar tempo com os filhos, netos e ir à rua. “Precisava de sair um bocado de casa, nem que viesse aqui ao jardim, mas o jardim era restrito, houve aquela fase em que os bancos tinham fitas e não se podia sentar, era só mesmo passar. Eu saía para fazer algum recado ou vir ao cemitério onde está o meu marido”, relembra. 

 

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